terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Perdida nas Trevas - Reflexo do Obscuro


   
   Escondeste. Ocultaste por detrás de um disfarce de emoções, jogos de corpo e olhares que não revelam o teu verdadeiro ser, que não transparecem a tua alma – tens medo. Ele percorre o teu dia como se já fizesse parte de ti, olhas e observas… pensas. Pensas se por alguma razão há algo de errado contigo. Perguntas porque te olham, interrogas-te porque te devoram mas não obténs resposta. Viver cada dia para ti é um desafio, lutas a cada momento, foges do teu passado, temes o teu futuro, escondeste no teu presente. Aterroriza-te tudo o que possa durar mais que um simples dia, mais do que uma noite sombria.
   Olhaste no espelho e não sabes quem vês, questionaste onde estás, por onde andas-te… quem é aquela pessoa estranha no reflexo do espelho, porque te olha perdida, sem destino. Ela procura algo, tu sabes… sabes o que ela procura mas não queres que ela encontre, pois não sabes as consequências que podem advir daí. É por isso que o reflexo permanece sozinho, sem ninguém ao seu lado. Ela chora de noite, chora e grita sem saber o que fazer, sufoca… o ser do espelho não tem respostas para tudo, mas gostava de as ter. Queria prever o futuro, queria saber se naquele pedaço de vidro estaria mais alguém ao seu lado, mas ele não consegue.
   Há uma história nos teus olhos, vejo que o teu coração está destroçado quando me olhas. Gostava puder ajudar-te, algo que pudesse fazer… queria que soubesses que tudo desaparece um dia, a tua dor não é eterna.
   Às vezes penso que te conheço, às vezes desejava mesmo te conhecer. Procuro-te mas não te encontro, apenas pequenas peças de um puzzle que não consigo completar, peças de uma história por acabar que não queres que eu escreva, que a termine… tens medo que saiba demais, tens medo que te conheça. Não queres que descubra o teu refúgio, o lugar por onde te escondes. Não te queres magoar.
   O reflexo no espelho mostra as marcas da tua dor. Vês-te nua sem onde te esconderes, não podes fugir de ti mesma. Não consegues escapar do mundo a tua volta. A vida tem mais poder que a tua força de vontade, não adianta lutar contra ela. Podes vencer um desafio mas nunca a própria vida, porque quando menos esperares ela te apanhará, te encontrará e ai decidirá o teu destino. 
Ângelo Carvalho 27.03.10
Para Tatiana Rocha
  



   A Rapariga Do Espelho Não Quer Mais Do Que Eu…
   Ela sou eu.
   Não é do espelho que tenho medo, nem do reflexo. O reflexo não passa de uma imagem minha reproduzida no vazio espelhado do vidro.
   É de mim que tenho medo. Do que me sei e do que não me sei. Tenho medo de mim porque há coisas que nem de mim consigo esconder e, admito, essas verdades são o meu papão. Tenho medo de mim, sou o meu próprio escuro.
   E se queres sinceridade nem é de mim que tenho medo. É de tudo, sou cobarde. Escolho a solidão por medo de ao estar acompanhada passar a ter medo de mim. (se é isso que já não tenho).
   Conheces-me melhor que muitos que dizem ver como sou. Não vêm. Eu não deixo. Tu vês, só porque nem pelo menos consentimento esperaste. Quiseste ver, entraste. Não tiveste medo do escuro. Os teus olhos habituaram-se ao negro, viste-me em bruto.
   Milagrosamente, não fugiste.
   Eu, só eu, procuro alguém. Procuro outra imagem. Procuro outro corpo. Outro negro, outro branco, um arco-íris.
   Quando és criança e tens medo do escuro foges. Até ao dia em que decides ir até ele e ver se existem monstros. Como não há nada percebes que quem tem medo é o escuro de ti. Por isso te assustava, para te manter longe. Quase nenhuma criança tem coragem para ir até ao escuro, e se existirem monstros?!
Eu sou o escuro, foste (és)
a criança corajosa.
Tatiana Rocha 13.04.10
Para Ângelo Carvalho

Sem comentários:

Enviar um comentário