terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Cativo das Trevas...





















  










 
   O meu físico desbotado desmorona-se a cada dia que falece interminavelmente. Sempre que me encaminho na tua direcção, ele arruína um pouco mais da sua vital essência. Sinto dolorosamente carência da tua presença, quero destinar ao teu lado.
  Um quarto crescente ilumina o gasto tecto negro. Procuro-te desvairadamente de novo, mas não te consigo ver nas sombras. Não vejo os teus olhos negros por entre os brocados da noite escura. Escondeste nas trevas, onde a luz cintilante do sol não invade o teu dia. Onde o brilho do luar não reluz nos teus olhos. Não me importo, pois sei que observas o meu rosto perdido, pacientemente na penumbra. Sei que esperas ansiosa e desalmadamente pelo nosso encontro. Experiencio os teus olhos cravejarem-me a pele como as gotas que escorrem do corpo quando me corto - quando me marco nas noites mal dormidas. Nas noites onde os pesadelos antigos me invadem o cerne e me atormentam a mente. Eles devoram-me sem misericórdia ao cessar de cada segundo.
   Em dias de desespero pressinto o teu odor, ele invade-me desvairadamente as narinas – um aroma selvagem, um perfume animalesco que me desperta do meu infindável transe. Procurei obter respostas para a minha demência, tentei alcançar-te mas faltava-me a audácia de procurar livremente em lugares, por poucos, alguma vez decalcados. Os olhos ficaram-me embaciados. Para onde quer que olhe, sinto-me cercado pela tua perturbação e agonia, pela tua aflição de me ter ao teu lado. Fujo dos meus pensamentos e procuro-te de novo, mas não consigo enxergar o teu corpo, imagino-o. Corro veloz, passada atrás de passada no chão envelhecido desta terra. Paro e não sei onde me encontro. Não há sinal de luzes ali, não existem vestígios de vida. Apenas uma imensa escuridão num canto da noite.
   Decidi invadir o escuro, estranhar-me nele como se fosse meu, por ti, por mim, já que em lugar algum te defronto. Senti a brisa que se levantou suave e em seguida forte e vigorosa. Apanhou-me rapidamente, gelou-me cada pedaço da mortalidade - senti-me desprotegido e abandonado. De novo procurei o teu toque no vazio, no nada da imagem que não via. Ouvi os teus sussurros chamarem pelo meu nome. Apoderaram-se perigosamente do meu espírito. Estamos frente a frente mas não nos vemos. Procuro-te mais uma vez e tento não me abater agora. Se acontecer ninguém me veria cair, não ouviriam um único som. O céu negro encobriria a minha partida.
   Senti a proximidade. Estremeci e cada parte do meu corpo se arrepiou quando sentiram o teu toque, a tua dureza. Arranhaste-me fugazmente as costas, beijaste-me com prazer o pescoço. Levaste a tua mão gélida de encontro ao meu peito quente, que batia de plena excitação e completo deleite com o que estava a acontecer. Senti-te como nunca havia sentido coisa alguma. Reagi ao teu eu, à tua dor, à tua indiferença. Invadiste-me as veias, a carne, a alma – roubaste-a para ti, sem pedir, sem dar nada em troca. Levaste-me cativo e encaminhaste-me para as sombras, fizeste-me delas, seu perpétuo prisioneiro.

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