terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Ela e Tu – Quimera: Perturbações do Passado



   Tantas noites passaram, esperei tanto tempo para te tocar, sentir os teus lábios, a tua pele quente acostada à minha, percorrer cada curva estupendamente bem talhada do teu corpo, explorar cada marca, cada sinal do teu rosto… o tiquetaque do relógio avançava a cada dia e eu sem respostas, esperava nas sombras, sozinho.
   A noite escondia cada sensação, cada vestígio de desalento que passava pelo meu corpo. Perdurava sem notícias tuas. O telefone não tocava, a porta não batia, a escuridão passava lentamente e escondia-me nela… atormentado com a tua demora, esperava não acabar só. Nunca me importei até te ter conhecido, o silêncio percorria o meu dia, a falta de corporação fazia parte de mim, mas agora a tua ausência devorava-me até aos ossos.
   Tudo o que queria era passar um simples minuto contigo, precisava de ti naquela noite nebulosa. Carenciava a tua presença mais do que nunca, o pânico apoderava-se do meu corpo num extremo frio. Tinha medo que te fosses embora, que não voltasses para me reconfortar com os teus braços calorosos, e tu meramente não voltaste.
   Ias fugindo de mim a cada instante, e na penumbra do anoitecer fiquei sem saber a razão porque te afastaste. Pronunciei algo que não me incumbia ser dito? Agi desacertadamente, dei um movimento em falso, um passo precipitado? Não tu unicamente não me desejavas e tu eras tudo o que sabia, tudo o que ambicionava.
   A minha pele ardente chamava pelo teu corpo desvairadamente, pelo teu toque. Queria-te, desejava-te violentamente… pensei que me desejavas. Queria limpar-me de ti, mas preso naquele lugar, o terror que voltava encontra-me e envolve-me fortemente, sufoco sem auxílio. Apenas o som do chuveiro corrente escondia as mágoas, levava-as para longe por momentos, onde eu não as encontrasse.
   Nunca prometes-te um final feliz, mas também não verbalizaste que me farias chorar um dia. Estou amarguradamente cansado por te ter esperado. A dor é forte, as palavras já não curam, o tempo não sarará as lágrimas que derramei, as feridas não estacarão. Algures no tempo eu amei-te com todas as forças que tinha e tu, nesciamente não me quiseste, trataste-me como um objecto qualquer e jogaste-me no lixo.
   A demente obsessão acabou. Condena-me por te ter desvairadamente amado, não me condenes por ter tentado, não me imaginava noutro lugar a não ser ao teu lado. Sei que não passava de um simples grão de areia esquecido no teu universo como tantos outros, mas ainda vives dentro de mim, desejava esquecer-te mas agora quimericamente vejo-te nela.
Ângelo Carvalho 05.10

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